Esta matéria tirei do Jornal Diário Popular do dia 5 desse mês.
A minha pergunta é como ficará a Festa da Melancia quando não houver mais produtores de melancia no município?
E outra, como fazer uma festa boa sem o produto principal? Hoje temos apenas dois produtores que produzem a fruta em apenas 9 hectares.
Está na hora do Município repensar sua estratégia para o pequeno produtor, com maior apoio e maiores investimentos, antes que seja tarde demais.
Via Diário Popular:
Há vários anos a Zona Sul do Estado é considerada um dos polos de produção de melancia. Um dos municípios dedicados à cultura é Capão do Leão. Mas a produção vem caindo gradativamente nos últimos anos. No verão passado, juntos, cinco produtores mantinham cerca de 12 hectares da fruta no município. Hoje esse número caiu para dois produtores, que mantêm quase nove hectares. Aqui as colheitas são consideradas tardias, iniciando em janeiro e estendendo-se até março, o que propicia o envio do produto para outros estados das regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste em seu período de entressafra. Mas a melancia que antes chegava à mesa de várias famílias do país hoje praticamente não sai da região.
A propriedade fica no interior do município, na região da Capela da Buena. Lá, na beira da estrada de chão batido, a casa onde o produtor José Cardoso e sua família vivem é rodeada pelo verde da cultura predominante da soja. A visão contrasta com a de alguns anos, quando a melancia era a responsável por ocupar grande parte dos campos da região.
A alguns metros daquela simples casa de reboco, espalhados por pouco mais de três hectares, nasce a fruta que é cultivada há 40 anos pela família. Além de José e da esposa Jucelma Cardoso, os filhos Otávio e Carlos também estão inseridos na produção. O último, aos 21 anos, é o mais velho e responsável por não tirar os olhos da plantação, fazendo vistoria sempre à tardinha. A colheita, assim como o plantio e o cultivo da melancia na região, possui caráter familiar. São os próprios membros os responsáveis por semear, arrancar a fruta do solo, carregar e tirar o sustento.
Queda na produção, não na qualidade
De acordo com José, no ano passado a produção foi maior e melhor. Mesmo assim foi pouco, comparado com a safra de há 12 anos. “Já chegamos a plantar dez hectares e mandar tudo para São Paulo e Goiás. Saíam 27 (caminhões) trucks por safra, hoje são dois por hectare”, diz. Ele afirma que as melancias acabam sendo vendidas na região. “Hoje, pra mandar lá pra cima são muitas exigências. Se eles não gostam da fruta, descartam e descontam no preço da mercadoria”, afirma.
Outro problema é a falta de mão de obra. “Aqui é difícil encontrar pessoas que queiram trabalhar. Quem faz bom serviço já está empregado”, relata. A fruta que já foi responsável por boa parte dos lucros da família, hoje pouco representa no bolso de José. O sustento vem mesmo é do leite. Com 14 vacas, a propriedade produz em média cem litros por dia. “Produzimos bastante leite. Até tentei plantar soja por três anos, mas peguei grandes períodos de seca e desisti”, explica.
O futuro
“Em seguida não vai mais ter melancia”, resigna-se o produtor. A casa onde a esposa de José nasceu fica a alguns quilômetros dali. Da memória ela traz à tona o período de fartura da planta vivido por seu pai. “Dava como pedra no campo”, compara. “Da própria melancia tirávamos a semente e plantávamos”, conta.
O engenheiro agrônomo da Emater de Capão do Leão, Daltro Garcia, faz monitoramento dos cultivos. Para ele, são vários os motivos que explicam a queda na produção. Um deles seria a dificuldade para conseguir área de plantio, pois a tendência é plantar a fruta sempre em novas áreas. Com o crescimento da soja, falta espaço para a melancia. A mão de obra também é escassa. “A colheita aqui é toda manual.” Sobre o preço, ele diz que a tendência neste ano até seria boa, podendo chegar a R$ 0,50 o quilo. Mas a chuva no último fim de semana chegou aos 70 milímetros. “O que deve afetar a produção é essa grande quantidade de chuva, pois não foram registradas doenças”, analisa. Entre as pragas da fruta, a traquinose - doença que afeta visualmente a fruta, produzindo pintas pretas, porém sem contaminar o produto -, formigas e até lebres são as mais comuns.
Apesar de não exigir muita chuva, conforme explica o engenheiro agrônomo, a fruta requer precipitações regulares, o que possibilita um desenvolvimento adequado e parelho. O engenheiro conta que em conversa com colegas, também foi constatada a diminuição da área de plantio em Herval.
O comércio
Cerca de 90 dias depois de semeada, a fruta está madura. Quando chega hora da colheita, Jucelma vai para a margem da BR-293, rumo a Pinheiro Machado, montar uma banca. “É o melhor jeito de vender, direto ao consumidor”, conta.
A queda nas vendas ocorre também na cidade. Márcio Mendes comercializa frutas em uma banca na rua 7 de Setembro, centro de Pelotas. Mesmo com o grande movimento de clientes, ele diz vender a média de duas melancias por dia. “Acho que hoje as pessoas preferem frutas mais práticas para comer, que não precise de uma faca e não seja tão pesada”, explica.
Fonte: Diário Popular
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