Artigo: o que será de nós

Oi amigos deixem eu me apresentar: meu nome é Bob. Pelo menos é assim que me chamam. Fui largado na casa do Seu Jaime, eu e mais nove irmãos, com apenas alguns dias de vida. Eles também são chamados de Bob; acho porque é o nome mais comum ou mais fácil de se dizer. Vai saber, né? 

Sei que a culpa não foi nossa. Mas afinal, quem iria cuidar de 10 cãezinhos vira-latas, sem Pedigree algum? Somente uma alma muito bondosa mesmo! 

E ainda bem que essa alma existe. É o Seu Jaime, que nos adotou, está cuidando de nós e de muitos outros, primos nossos. No total somos cerca de 250 cãezinhos, machos e fêmeas, pequeno e grande porte. Todos sem raça definida; deve ser por isso que ninguém nos quer. Afinal, nunca entendi direito esse negócio de raça, sabe. Não nascemos da mesma forma? Não nos criamos da mesma forma? Não somos tão amigos quanto os que são "superiores" e não somos tão fiéis quanto eles? Isso só poderia vir de um ser tão preconceito quanto o humano mesmo. Só eles teriam a capacidade de distinguir os seres como superiores e inferiores; e isso que se dizem racionais. Para nós cachorros, somos todos iguais e o dia em que morrermos iremos todos para o mesmo Céu dos Cachorros.

Cães da ONG Amigo Pet
Foto: Jesus Madeira

Infelizmente essa irracionalidade e essa irresponsabilidade dos humanos nos faz sofrer. Somos 250 cães, precisando de ajuda. Estamos passando por um mal bocado. Muitos estão doentes e definhando até morte. Chega a dar dó. Até quando sofreremos assim? Estamos precisando de tudo: de comida, de remédio, de um abrigo, de voluntários. Mas sabe o que mais queremos? É que alguém nos adote e leve para morar consigo. Isso seria demais!

Porém, enquanto isso não ocorre, estamos sobrevivendo aqui na ONG Amigo Pet, com Seu Jaime e alguns amigos, que tiram um pouco de seu precioso tempo para proteger os indefesos. Ah, se não fosse por eles! Nem sei dizer onde estaríamos hoje! Talvez na rua, ou quem sabe morto. Ainda bem que existem humanos preocupados com a defesa dos animais. Mas o Seu Jaime está muito doente. Também está precisando de tratamento. Toda a ajuda agora é bem-vinda. Se o Jaime não puder nos cuidar mais, iremos todos "pro olho da rua". Seremos um problema a mais para a saúde pública, pois poderemos transmitir várias doenças.

Uma certa vez um secretário da administração local disse que nós não éramos problema da prefeitura porque viéramos de Pelotas. Só não sei como ele deduziu isso se não temos nem certidão de nascimento nem carteira de identidade. Depois de virmos para cá, somos sim um problema local. Seremos um gigantesco problema de saúde pública. Se é problema público, é de responsabilidade da prefeitura. A solução seria a criação de um canil municipal. Ficaríamos bem assim, pelo menos até uma adoção responsável.

Enquanto isso, estamos na espera que dias melhores virão. Pelo menos é o que eu e meus muitos manos esperamos! 

E por favor não soltem mais manos meus na rua para sofrerem. Seja um homem responsável, faça valer sua racionalidade. Também temos sentimentos. Sofremos como os humanos; sentimos dor, fome e sede; sentimos a falta de afeto tanto quanto vocês! Pense nisso.